quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tocando na rua.

Eis que chega mais um dia histórico, entre poucos dias históricos que temos em nossas pequenas carreiras: o dia de tocar na rua, com um gerador de energia.
Isso já foi feito outras vezes, por outras bandas e artistas, agora é a nossa vez. O show será em Lençóis Paulista, onde a gente vive.



POR QUE?

Alguns amigos já conhecem aquela velha história onde eu "bato ponto", sempre enfatizando o quanto o músico é um trabalhador explorado, comparável à dialética hegeliana do senhor e escravo. Muitas entidades, órgãos e empresas atuam usando em suas teorias chavões já bem conhecidos do tipo "democratização do acesso" ou "desenvolvimento sustentável", mas ficando muito longe disso na prática.

O artista tem de se relacionar com essas práticas insuspeitas, a começar pelo Myspace/similares, onde ele coloca suas músicas, divulga para o maior número de pessoas possível, gera visibilidade pro site que vende publicidade e não paga nada ao artista. Depois, o artista se depara com outra coisa que precisa: a mídia - esta usa o mesmo princípio, usando-o como pauta, quadro, matéria, coluna, atração, vendendo publicidade e, novamente, não revertendo nada ao artista. Em seqüencia, o artista lida com inúmeras casas de show que cobram caro pra entrar, vendem bebida a preços exorbitantes, lucram horrores e pagam um cachê de fome, quando pagam. Daí vem movimentos como o Fora do Eixo, onde centenas de pessoas trabalham nos coletivos ganhando pouco pra gerar grandes movimentações, constroem um pequeno império, conseguem ajudas milionárias da ABRAFIM/outros orgãos e promovem centenas de eventos onde, geralmente o artista não ganha nada e ninguém entende pra onde vai tanto trabalho e tanto dinheiro. (na verdade a gente entende, né.)

Por fim, temos esse cenário de "eterna ajuda", onde as "cabeças" ganham muito dizendo que estão "ajudando a promover" e assumindo em seus discursos coisas divinas, maravilhosas, progressistas, democráticas, justas, necessárias e até mesmo ambientais; o trabalhador (músico/artista) se submete ao ridículo de participar disso tudo no afã de, algum dia, ter reconhecimento e poder viver da sua vocação, topando trabalhar de graça pra essas pessoas santas e acima de suspeitas. Embora alguma movimentação realmente aconteça, todo esse trabalho geralmente é destinado a um público elitizado, com acesso ao que a internet oferece, que baixa 20 discos por dia e assiste a shows no Youtube. Esse público, como se sabe, raramente compra um CD, ou mesmo uma camiseta, ou qualquer coisa real que um artista real venda no mundo real.

Decepcionados com essa degradação, estamos pensando em maneiras de construir, de forma gradativa, um complexo de ações onde possamos trabalhar com mais liberdade, sem depender dessa gente santa que não serve pra nada, espalhando música e gerando público sem dar dinheiro pra ninguém que não interessa. Sábado vamos testar o começo da conversa.

7 comentários:

  1. Porra cara, eu quero ver tu tocando aqui em Sorocaba, o show de vocês deve ser fodido.

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  2. Sorocaba, dia 05 de maio, no Asteroid Snoope! Abraço! =)

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  3. Opa, pode ter certeza que vou estar lá!

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  4. Sensacional, Snoope! Vai ajudando a gente a divulgar aí. Sorocaba é um mistério! haha.
    Abraço. =)

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  5. Precisa nem pedir, já to espalhando pra meio mundo! Abraço.

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  6. C@ro, soul fun e nunca tenho dinheiro pra comprar discos. Achei lindo poder baixar tudo no myspace. Antes da Era MP3, a vida era um inferno. Entendo que a profissionalização do artista é uma luta que engatinha a pelo menos dois séculos. E tamos nessa! Pra ganhar! Eu também, querendo fazer literatura em um blog que ninguém lê. Isso me compromete menos do que se eu fosse um músico tocando na noite, com um harém me assediando no camarim, tendo de balear o cretino da portaria pra pegar minha parte do cover. Sua atuação é mais heróica, admito. No caso da literatura, também não falta gente santa e canonizada tomando chá em academias onde ninguem sua. Porque os sinos é que soam. Eu teria ido ver vocês tocando na rua, no telhado, em Machu Pichu, nas Pirâmides Egípcias, em Pompéia, no night club ou no Teatro (que é onde cês vão tocar quando forem sucesso de crítica muito antes de serem sucesso de público). Ou não. Oxalá. Mando minhas vibrações superpositivas. Caso elas não adiantem o lado aí, quem sabe sejamos compensados no além por todo esse esforço lindo.

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